A segunda sessão do PubhD UMinho juntou três investigadores das áreas da enfermagem, informática e biologia. O público interpelou com perguntas, numa noite em que a ciência foi o centro das atenções.
Mesmo reforçando o número de cadeiras, não foi possível sentar todos os que assistiram, no Sé La Vie, à segunda sessão do PubhD UMinho. Os oradores, obrigados a gerir a exposição pública, o tempo e a apresentação do seu trabalho, confrontam-se com uma experiência diferente de interacção com o público, que pode colocar perguntas.
Paula Encarnação (45 anos, enfermeira, investigadora do ICBAS/CEHUM, Universidade do Minho) estuda o papel da fé em situações de doença crónica, nomeadamente, na esclerose múltipla. E expôs o essencial do seu projecto de investigação, em torno da avaliação da fé e da espiritualidade do indivíduo, através de ferramentas que aferem a “fé pessoal”, a “prática religiosa” e a “espiritualidade”. “Curioso é que aproximadamente 20 por cento (dos doentes estudados) sabe ter uma espiritualidade mas não a sabe identificar ou enquadrar em qualquer movimento religioso ou espiritual”, referiu Paula Encarnação para quem “a fé, aquilo em que se acredita e que é muito mais abrangente do que qualquer crença religiosa, pode gerar saúde, bem estar e capacidade de lidar com a doença”.
Eduardo Brito (30 anos, engenheiro informático, investigador do HASLab da Universidade do Minho) investiga métodos formais e a sua aplicação em programação informática. Sem poder usar computador para fazer a sua apresentação socorreu-se de analogias (manuais do IKEA por exemplo) e da namorada, que chamou ao palco para explicar o conflito de programas que pretendem aceder ao mesmo recurso, no caso um bombom Ferrero Rocher. “Hoje todos usamos computadores, aplicações, entre outros. Aspecto comum entre eles? Todos têm de aceder a enormes bases de dados e todos existem suportados em várias estruturas de algoritmos. Ainda que sejam criados e optimizados para funcionarem de modo correcto, a “competição” por um recurso, poderá levar a reacções imprevistas e até perigosas no sistema” referiu na sua intervenção. Com o estudo em métodos formais, concretamente em verificação de sistemas, Eduardo tenta ir ao encontro deste problema com uma solução para uma verificação mais eficaz, mas sem colocar de parte a solução mais óbvia: “Uma marca de automóveis teve, durante mais de dois anos, problemas com um modelo e que outros atribuíam aos softwarecircuitos sem e a que a verificação informática não encontravasse qualquer erro . Mais tarde veio a comprovar-se que era o travão que ficava preso no tapete…”
Daniel Ferreira (34 anos, biólogo, Centro de Ciência Viva de Guimarães/ Laboratório de Ecologia Aplicada da UTAD), estuda o impacte dos parques eólicos nas populações de uma espécie de morcegos (entre as 25 espécies de morcegos existentes em Portugal) e procura perceber, através de um modelo que pretende reflectir a realidade dos parques eólicos em Portugal, a implicação directa dos aerogeradores nasos populações de morcegos e de certas aves. Fala de aerotraumas e explica: “Grande parte dos cadáveres morcegos que encontramos nos parques eólicos não apresenta qualquer mutilação com não têm origem em choques mecânicos, mas sim em o colapso do sistema respiratório. Este deve-se ao facto ddestruição (rebentamento) dos pulmões porque o movimento de rotação das pás do aerogerador provocar elevadas alterações dnea pressão ade ar tmosférica que nas suas extremidades, levam originando umàa descompressão (doe ar e consequente rebentamento dos pulmões) que imprime uma expansão pulmonar e leva ao colapso do sistema respiratório nos morcegos, provocando-lhes a morte”.
Aparentemente, é mais um morcego morto (Daniel levou um dos cadáveres num frasco para mostrar ao público), mas o problema é sério, pois o declínio nas populações mundiais de morcegos é atribuído a várias acções humanas, destruição de habitat, uso de pesticidas, bloqueio de cavernas, e interfere gravemente no equilíbrio ecológico de que todos fazemos parte.
O evento, promovido pelo STOL – Science Through Our Lives, um projecto de comunicação e divulgação de ciência nascido no Centro de Biologia Molecular e Ambiental da Universidade do Minho, insere-se no movimento PubhD (Pub+ PhD), que surgiu em Nottingham (2014) e chegou a Portugal em 2015 (Lisboa) e que tem por objectivo divulgar ciência na primeira pessoa criando oportunidades de interacção com o público leigo.
A próxima sessão do PubhDUminho terá lugar em Guimarães, no dia 31 de Março, no Convívio Associação Bar Associativo, pelas 21 horas.